QUEM FOI QUEM
João Batista Caleffo foi soldado constitucionalista, benfeitor, esportista e comerciante
Numa entrevista concedida ao jornal Taperá em maio de 1995, João Batista Caleffo, mais conhecido na cidade como “Calefinho”, em virtude de sua baixa estatura, contou em detalhes como foi sua participação na Revolução Constitucionalista de 1932. No entanto, sua vida não se resumiu a essa louvável ação em defesa dos interesses do Estado de São Paulo, que não aceitava a interferência do Governo Provisório nas decisões estaduais e queriam uma nova Constituição para o Brasil. Na época ele tinha 86 anos de idade, já era bisavô e tinha uma memória prodigiosa, relatando detalhes dos três meses de participação no movimento. Foram poucos os saltenses que atuaram na revolução, mas essa ação foi sempre reconhecida e em diversas ocasiões eles receberam as devidas homenagens.
“Calefinho” nasceu em Elias Fausto, em 10 de outubro de 1908. Morava em Itu, quando se transferiu para Salto e tinha 19 anos de idade, constituindo família no município. Era filho de João Baptista Caleffo e Josephina Cazelatto, procedentes de Rovigo, Itália, se estabelecendo num sítio de Elias Fausto, onde “Calefinho” possuía o Bar e Sorveteria São João. Após participar da Revolução, ele voltou para seu bar. Sempre trabalhou como autônomo e era um negociante dos bons. Depois que se transferiu para Salto, tornou-se vendedor do Sabão Dominante, que tinha a fábrica em Salto, atendendo toda a região e até por cidades onde passava. Também foi vendedor dos produtos da Vinícola Milioni e ainda vendia cachaça de Cabreúva e de Rio Claro, fumo em corda com a palha. Em certa época foi representante da Ultragás na cidade, vendendo botijões de gás e fogões.
Na Revolução – Na entrevista que concedeu ao jornal Taperá, “Calefinho” contou que se juntou às forças paulistas quando tinha 19 anos de idade, pois foi sorteado para servir as forças constitucionalistas. Disse que primeiro os convocados permaneceram no Quartel de Itu (Regimento Deodoro), depois seguiram de trem da Estrada de Ferro Sorocabana para o Quartel de Quitauna e de lá, pela Central do Brasil, para Taubaté. Nesta cidade do Vale do Paraíba se juntou, com os demais soldados, à Cavalaria, que pertencia ao 4º Regimento de Artilharia Montada de Itu. Nessa época já tinha passado a cabo, exercendo a função de “correieiro” e seleiro (cuidador do arreamento dos cavalos), juntamente com o ituano cabo Indalécio.
Ele se lembrou que no período em que ficou em Taubaté chegou a ir até Registro e ao Rio de Janeiro com o 4º Regimento, trabalhando sempre na oficina, consertando os arreios dos cavalos, principalmente no período noturno. Afirmou que não chegou a lutar contra as outras forças, pois sua função era cuidar do arreamento e dos animais.
Quando a revolução terminou, “Calefinho” e seus companheiros estavam em Aparecida e ele ficou ainda 8 dias nessa cidade, onde comprou roupas, pois deixou de usar o uniforme. Comprou até um terno de brim, deixou seu armamento (mosquetão) por alguns dias num hotel de Aparecida e o devolveu ao Quartel de Itu, quando regressou para Salto. Por ocasião da entrevista, revelou que recebia uma pequena gratificação (200 reais, na época), em reconhecimento a sua participação na Revolução. Gastava muito mais que isso, ajudando as pessoas necessitadas, principalmente as que vinham para Salto vender seus produtos agrícolas, demonstrando ter um grande coração.
No Esporte – “Calefinho” bom jogador de futebol, defendendo inicialmente o Ipiranga local e depois a A.A. Saltense, equipe da qual se tornou um grande benfeitor. Sempre foi um grande colaborador do clube, assumindo diversos compromissos, dentre eles o de receber atletas que vinham de outras cidades atuar pelo clube em sua residência, além de colaborar financeiramente. Num jogo ele que sempre comparecia, ocupando lugar nas arquibancadas, protestou com sua voz fina contra o juiz, chamando-o de “canalha” e essa foi sua marca registrada nos jogos realizados no Estádio “Alcides Ferrari”. Ele era também integrante da equipe de bochas do Bar Internacional, localizado na esquina das ruas José Galvão e Prudente de Moraes, que possuía canchas do esporte.
Homenagem – Em vida “Calefinho” recebeu diversas homenagens, dentre elas da A.A. Saltense; da Prefeitura de Salto, na reinauguração do Estádio Municipal, em junho de 1992; da Câmara Municipal de Salto, juntamente com outros soldados constitucionalistas, e também foi dado seu nome a uma das ruas do Residencial Parque Imperial. Importante homenagem recebeu também da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, como ex-combatente, expressada com a entrega de medalhas.
Família – João Batista Caleffo era casado com Dezolina Vicente Caleffo, que foi sua segunda esposa. A primeira foi Josefina Caleffo, que faleceu e com quem ele teve um filho, Adércio. Marlene, a segunda filha, nasceu da união dele com Dezolina. Adércio foi comerciante e vendedor e Marlene professora de Canto Orfeônico, Desenho e Plástica, além de ser pedagoga e ainda exerce outras atividades, como comerciante, por exemplo.
“Calefinho” faleceu em 4 de junho de 1998, coincidentemente a data de aniversário de sua filha Marlene.
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